Entre os dias 11 e 13 de novembro, a Escola Municipal Miguel Schleder recebeu a oficina “A Tradição da Rabeca Caiçara”, uma vivência cultural realizada com a turma da Jornada Ampliada. A ação integra o projeto “De Pai para Filha”, conduzido pela artesã morretense Josiane dos Santos, filha do reconhecido Mestre Martinho — uma das maiores referências da cultura fandangueira no Paraná.
A iniciativa faz parte da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), em parceria com o Ministério da Cultura, Prefeitura de Morretes, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo e a Coletiva A Mulher do Baile, que atua na valorização da presença feminina no fandango e na preservação da memória caiçara.
A oficina teve como objetivo fortalecer a transmissão geracional da tradição da rabeca caiçara, preservando a memória deixada por Mestre Martinho e destacando o papel de sua filha, Josiane, como guardiã e continuidade viva desse legado.
As crianças foram apresentadas ao universo do fandango caiçara, conhecendo o território tradicional, a história de vida de Seu Martinho e de Josiane, e compreendendo os aspectos culturais e familiares que sustentam essa prática.
O trabalho dialogou diretamente com conteúdos já desenvolvidos na escola pela professora Andressa, que vem fortalecendo a educação patrimonial entre os alunos.
Durante a segunda aula, os estudantes acompanharam o processo de fabricação da rabeca, aprendendo sobre madeiras, ferramentas e características do instrumento. Um dos momentos de maior encantamento foi a demonstração de Josiane esculpindo o tradicional caramujo, etapa minuciosa e simbólica da lutheria caiçara.
As crianças participaram ativamente, fazendo perguntas sobre os materiais utilizados por Mestre Martinho, as preferências de Josiane e a preservação dos moldes originais da família.
No encerramento, a musicista Joyce Pires apresentou diferentes modas do fandango, como chamarrita, dondon e a marca batida de Anu, aproximando os estudantes da musicalidade tradicional. As crianças puderam dançar, tocar e vivenciar o fandango de forma lúdica e afetiva.
Além da vivência prática, a escola recebeu uma exposição sobre a tradição da rabeca caiçara, com fotografias, textos e elementos históricos. Um destaque especial foram os moldes originais preservados por Josiane, utilizados por Mestre Martinho para a construção de violas, rabecas, machetes e bandolins — peças que resistiram até mesmo à enchente que atingiu a família.
Também foi entregue às crianças e professores uma cartilha pedagógica sobre o fandango e a rabeca caiçara, desenvolvida especialmente para apoiar o trabalho de educação patrimonial na rede municipal. A equipe do projeto realizou ainda uma formação para professores, orientando sobre como integrar os saberes tradicionais ao cotidiano escolar.
Mais do que uma oficina, a ação representou uma experiência de identidade e pertencimento. Josiane, que aprendeu com o pai a construir instrumentos aos 10 anos e hoje é a única mulher no território caiçara a fabricar rabecas por hereditariedade, compartilhou com as crianças um conhecimento carregado de afeto, resistência e ancestralidade.
O projeto reforça a importância da cultura caiçara na formação das novas gerações e fortalece a presença do fandango como elemento essencial da identidade de Morretes.
O projeto contou com o apoio de parceiros e colaboradores, entre eles:
André Lucas Santiago, Allana Araújo, Angélica Ripari, Joana Ramalho Ortigão Corrêa, Rodolfo Vidal, Mario Gato, Roberto Ferreiro, Luiz Parna e Cleiton Prado.
A Prefeitura de Morretes agradece também à equipe da Secretaria Municipal de Educação, à direção, coordenação e professoras da Escola Miguel Schleder pela dedicação e apoio.